Imagine um post cuidadosamente elaborado para irritar, dividir opiniões e mexer com os nervos do público. O objetivo é claro: gerar engajamento a qualquer custo. O mundo digital vive da atenção – e nada chama mais atenção do que a polêmica. O conceito de Rage Bait (“atrair o público pela raiva”, em tradução livre para o português) nasce dessa premissa: uma técnica que manipula a indignação e as expressões públicas de ódio para garantir o máximo de reações.
Em um mundo onde o engajamento digital é um dos ativos mais valiosos para marcas e influenciadores, essa abordagem pode ser eficaz.
Mas quando se trata do mercado de luxo, que se fundamenta na busca incessante pela elegância, exclusividade e reputação imaculada, o rage bait teria realmente algum espaço?
A Fendi recentemente passou por uma polêmica, com a teoria de que estaria utilizando de “rage bait” ao lançar porta pirulitos em parceria com a Chupa Chups por R$ 3 mil, gerando revolta no público. Na verdade, a peça foi elogiada pela marca: “Utilitário e extravagante”. É assim que a última coleção da Fendi é resumida em sua nota de intenção, e este acessório incomum pode muito bem ser a personificação perfeita. O Chupa Chups Lollipop Holder, resultado de uma colaboração entre “Fun Fur” da Fendi e “Forever Fun” da Chupa Chups, assume a forma de um porta-pirulito para ser usado ao redor do pescoço ou preso a Baguette, Peekaboo e outras bolsas campeãs de vendas da marca italiana. Projetado nas oficinas da Fendi, este estojo de couro assume o formato reconhecível do doce, mas dá a ele um toque de alta costura: disponível em vários tons, ele apresenta o logotipo duplo F projetado em 1966 por Karl Lagerfeld, três anos antes de Salvador Dali criar o logotipo Chupa Chups.
Luxo e cultura pop estão cada vez mais unidos, e a colaboração entre Fendi e Chupa Chups está alinhada às muitas parcerias entre casas de moda e marcas de alimentos nos últimos anos.
A visão sobre o uso de rage bait no segmento de luxo divide opiniões. Para Jorge Grimberg, escritor, especialista em tendências e mentor de carreiras criativas, é possível usar a estratégia de forma provocativa e inteligente. “Funciona como uma provocação planejada, geralmente relacionada a temas sensíveis, como gênero ou sexualidade”, diz.
“Porém, é fundamental que a marca esteja preparada para lidar com as consequências de uma polêmica que possa fugir ao controle”, explica Grimberg. Ele cita a Balenciaga como exemplo de uma grife que abraçou a ironia sem perder o tom exclusivo, criando peças que vão de bolsas inspiradas em sacolas do Ikea a tênis desgastados vendidos por cifras altíssimas.
Por outro lado, Malu Albertotti, consultora em mercado de luxo e CEO do Instituto do Luxo, vê o rage bait como incompatível com os valores do setor. “Marcas de luxo constroem relações emocionais positivas com seus consumidores, baseadas em tradição e sofisticação. Depender da raiva para gerar atenção vai na contramão dessa essência”, defende. Para ela, essa abordagem pode corroer o significado do luxo, prejudicando sua imagem no longo prazo.
Mesmo com um público jovem mais receptivo a provocações, Albertotti acredita que a abordagem ética e ponderada ainda é a mais promissora. “As novas gerações valorizam marcas que defendem causas e se posicionam com responsabilidade. Provocação pelo simples choque dificilmente construirá um legado sólido”, analisa.
No fim das contas, a verdadeira inovação no luxo passa por equilibrar modernidade e tradição, sem comprometer a essência. Evoluir é necessário, mas sempre com respeito à base de consumidores que, mais do que produtos, buscam histórias, valores e autenticidade.
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Fonte: https://forbes.com.br/forbeslife/2025/02